6 Comentários
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Avatar de Renato Mendes

Fiquei curioso pra saber como é essa psicologia que engloba todo o resto. Como isso influencia na clínica? É uma questão de mudar o gabarito com o qual o psicólogo analisa a conversa ou é toda uma gama diferente de ferramentas pra se extrair insights em conjunto com o paciente?

De qualquer forma sempre que algo se mostra mais complexo do que parecia, eu curto. Lembro que já participei de algumas sessões de terapia anarquista e gostei bastante, justamente pelo fato de abordarem as questões de forma coletiva e com os atravessamentos das superestruturas moldadas pelo capital.

Não conhecia o Latour, vou dar uma pesquisada!

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Avatar de Shanti Rodrigues,  Psicóloga

Que pergunta ótima! Então, não é uma psicologia que engloba todo o resto, é uma "psicanálise diferenciada" que reconhece que todo o resto (para além das relações familiares) tem também uma influência na criação dos desejos (e mucho más), mas que isso também vai ser relativo ao território e cultura de cada um e como os atravessamentos se dão subjetivamente para esse sujeito específico (ficou confuso? é difícil simplificar o complexo rs)

Ajuda pensar que o movimento da esquizoanalise também se construiu como resposta de resistência ao "capitalismo mundial integrado" e suas formas de captura do desejo, logo essa abordagem busca explorar um mapeamento/cartografia dos rizomas (vamos chamar rizomas pontos com múltiplos atravessamentos).

Então nessa abordagem não existe gabarito, existem pistas a serem seguidas e exploradas/testadas. A investigação é feita COM o sujeito ativamente buscando junto, e testando e questionando e repetindo, pra conscientemente fazer diferente (quando dá rs).

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Avatar de Rafa Sant'Anna

Que abordagem interessante! Nunca havia sido impactado e olhado para a abordagem de psicologia por esse ponto de visto. Chega a parecer óbvio mas o óbvio precisa ser dito.

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Avatar de Shanti Rodrigues,  Psicóloga

Acho muito interessante essa abordagem também! <3

E talvez pareça óbvio mesmo- mas no reducionismo tem muita coisa que parece óbvia quando na verdade está dando um Zoom tão grande que vc perde a referencia do contexto.. Uma coisa bem parecida com o efeito Dunning-Kruger, já ouviu falar?

(resumaço caso não conheça ainda: é um viés cognitivo segundo o qual pessoas com baixa habilidade ou pouco conhecimento em determinada área tendem a superestimar sua competência. Curiosamente, pessoas com maior conhecimento tendem a subestimar o quanto sabem, justamente por perceberem a complexidade do assunto.)

Que sigamos atentos!

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Avatar de Edward Nagô

"Coletivos de humanos e não humanos produzindo modos de existir." Isso é impactante de uma forma que me leva sempre a pensar nos saberes milenares de povos originários ao redor do mundo. E também me faz querer esfregar na fuça de quem ignora a subjetividade haha.

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Avatar de Shanti Rodrigues,  Psicóloga

Eu também volto muito para os povos originários e outros conhecimentos milenares sistêmicos, tipo a astrologia. Esse discurso da modernidade com reducionismo científico de cortar as variantes ao máximo e depois extrapolar as premissas me parece tão natural quanto:

- transformar saúde mental em contagem de passos no aplicativo do celular

- chamar o BOPE para falar de cultura organizacional

- explicar sentimentos complexos com gráficos de dopamina como quem explica o amor com uma planilha Excel

- resolver problemas estruturais de desigualdade com workshops de "mindfulness corporativo"

- substituir comunidades reais por grupos de WhatsApp e chamar isso de "conexão social"

- criar um algoritmo para decidir o valor da arte como quem pesa legumes no supermercado

- tratar traumas psicológicos profundos com três sessões de coaching quantificável

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